sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

O Filme da Vida, ou A Vida em Filme?


Estamos aqui, vivemos num filme, um filme que nos inspira e que o fazemos ao mesmo tempo; um filme do qual somos os protagonistas, ora estrelas, ora coadjuvantes; um filme do qual somos diretores e espectadores, pois temos total direito (e muitas vezes o fazemos) de nos vigiar e de controlar nossas próprias atuações, podemos adorá-las ou odiá-las; podemos nos dar um Oscar de tanto amor próprio; podemos reprovar nossos próprios personagens; fato é que, em maior ou menor grau, nos percebemos a todo momento como se tivéssemos num filme; muitos evitam pensar assim, pois sabem que isso implica um exame de consciência apurado, o que diga-se de passagem dói muito; evitam ainda pelo fato do autoconhecimento, pois é chato ser o espectador solo, ser o público de um homem só; é chato assistir sozinho, e pior ainda: assistir sozinho seu próprio filme!
Porém, isso não é de toda tristeza, pois se encararmos o fato de que somos os únicos capazes de entender as entrelinhas e as metáforas de nosso próprio filme, certamente ele é feito único e exclusivamente para nós. Quem se acostuma a ter sempre um grande público, deve sentir um vazio tomar conta, quando os momentos de alegria e felicidade do filme, dão lugar aos de tristeza, e a platéia se desinteressa pelo filme ou vai embora, deve ser um golpe duro para o protagonista/diretor/espectador-itinerante e dinâmico que interage com este mesmo público que neste momento se retira; posso ver a tristeza se abatendo sobre os que fizeram o filme no momento em que o público vai embora e as luzes se apagam. E tudo isso por uma só razão, uma básica diferença: o filme da vida não é ficção! E mesmo depois que a sessão acaba, e que o público vai embora e as luzes se apagam, o filme continua, muitas vezes essa falta de audiência corrói por dentro o realizador deste filme; coisa passageira, na próxima sessão tudo se repete novamente, e o protagonista vai mais uma vez tentar refazer seu destino, em vão é claro!


Para ler: "1985, o ano em que o Brasil recomeçou"/ Edmundo Barreiros & Pedro Só
Para ouvir: Flamingo/ Brandon Flowers
Para ver: Sinedoque Nova York/ Charlie Kaufman