terça-feira, 22 de abril de 2014

Quem não se faz entender, não merece ser entendido!



Durante minha deliciosa graduação, tive um professor que sempre dizia:

-Gente, façam-se entender! Sempre que se comunicarem, façam-se entender! Pois imaginem, que do outro lado existem pessoas que não fazem nem ideia do que você está falando, e é para elas que você vai se comunicar. Não importa o que você quis dizer, o que importa é O QUE VOCÊ DISSE.

No começo eu pensava: O que vale não é a intenção? Onde fica a pobre da minha intenção nisso?

Mas aos poucos fui percebendo que intenção não basta para se comunicar, e como dizia o nosso originalíssimo Abelardo Barbosa (O Chacrinha): “Quem não se comunica, se estrumbica”. Traduzindo em miúdos, quem não se se faz entender fatalmente não será entendido (ou entendido de forma errônea).

E nesse imenso universo da comunicação temos dois tipos de linguagem: a literal e a figurada. Em se tratando de linguagem figurada, é aceitável que o comunicador não se faça entender, pois muitas vezes, reside justamente na confusão a magia, a beleza e a essência da comunicação pretendida pelo mesmo (encaixam-se aqui poetas, filósofos, músicos, entre outros). Quer dizer algo que você pensa, sem grandes compromissos com o entendimento alheio, acerca do seu escrito? Use a linguagem figurada! Porém, além da dificuldade maior em realizar uma (pois exige um bom desprendimento da realidade, do pragmatismo), posteriormente você não terá direito algum de dizer: Poxa, vocês não entenderam o que eu quis dizer? Bom, aqui em linguagem figurada abre-se um universo gigantesco para a compreensão alheia, então reclamar não é nenhum pouco justificável.

Por outro lado, se falamos de linguagem literal, você terá todo o direito de reclamar do não entendimento alheio, com um enorme porém: Se você foi claro, e se FEZ ENTENDER. Aqui geralmente se encaixam os jornalistas, colunistas, professores, entre outros. Se você procurou ser claro, esclarecido e mesmo assim não lhe entenderam, reclame, é um direito seu! Agora, se mesmo escrevendo em linguagem literal você não procurou se fazer entender e quis deixar um ar de confusão no escrito, ah meu querido (a) escritor (a), aí sua margem de reclamação se mostra bem pequena.

E aí chegamos ao ponto central desse texto: A Ironia! Oh ironia, tantas guerras em teu nome, tantas falácias e cagadas em teu nome. Tantas pessoas que se escondem atrás de ironia, coisas do tipo: Vou dizer o que eu penso, se não gostarem digo que fui irônico. E outros ainda que resolvem aderir à “ironia” ao longo do caminho. A ironia acaba virando um esconderijo privilegiado dos que preferem não admitir erros, um bode expiatório, um lugar comum para onde correm na hora “que o bicho pega”. Utilizando esse conceito mágico chamado ironia, podemos fazer coisas brilhantes, como jogar a culpa pelo não entendimento (ou entendimento errôneo do nosso escrito) em cima do leitor, sim! “Ele é o culpado por não entender a minha ironia! Eu sou um ótimo escritor, mas tem gente que não tem capacidade de entender a minha ironia, a minha escrita refinada”. Em suma, é isso que querem dizer os que não se fazem entender. A responsabilidade do entendimento é de quem escreve, e não de quem lê.

Mas acredite, até mesmo na ironia você tem que ser claro, escritor. Mas afinal de contas, o que é ser irônico? Existem muitas formas de ironias, mas pra resumir, uma frase ajuda: SÓ QUE NÃO! O “só que não” é a ironia da atualidade, é você dizer algo e depois contrariá-lo de propósito. Já quando se trata de ironia em textos de linguagem literal, oh brilhante escritor, seja CLARO na sua ironia. Nem que você corra o risco de passar por exagerado, e o seu leitor se obrigue a falar: Mas eu já tinha entendido! Pelo menos, você terá dado o seu recado. Porém, de certa forma, parece que o escritor procura exaltar tanto a beleza e o mistério do seu escrito, que deixa a CLAREZA e a COMPREEENSÃO DO LEITOR em segundo, terceiro, ou até quarto plano. E como ser claro na ironia de um texto literal? É simples, é só levar sua ironia até o absurdo, mas perceba: um absurdo que seja de fato absurdo para todos, e não somente para você. Você não fala para você, escritor, você não está diante de um espelho, você fala para os outros.

Ah, e pra ser claro e se fazer entender, prezado escritor (a), não é necessário escrever outro texto dizendo que no anterior você tinha sido irônico, isso é uma autopromoção desnecessária, basta ser claro que tudo se resolve. Ah, já ia me esquecendo: Pra eu ser claro e me fazer entender, esse escrito vale para muitos escritores (as), em especial para você Tati Bernardi, colunista da Folha de São Paulo (Entenda) (Entenda²) . Você que diz não se interessar por política, você que diz estar nesta coluna para “falar merda” (mas que não admite quando faz cagadas, seria outra ironia sua?), você que considera os escritos do Constantino “papos sérios”, entre outras coisas. Seja mais clara com seu leitor, e decida-se: ou é literal ou é figurada! Misturar é possível, mas não te dá a margem para chamar o seu leitor de: “patrulhinha ignorante dos hispter fofos”.

E pra finalizar, uma coisa é certa: Ou a gente se faz entender, ou os outros interpretam como bem entenderem...liberdade de expressão gera liberdade de compreensão!

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